Inevitavelmente, ficarei desempregado. Sobre esta proposição se contrói todo o movimento moderno do Beijo de Gaia, do regresso à terra. Queremos ser novos Anteus, e na simplicidade da terra - respondendo ao apelo de Thoreau «Simplify!» - reencontrar o Homem e Deus. Possamos, como hino da nossa revolta, citar o Selvagem de Huxley: «Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o autêntico perigo, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado.» E, como nesse Admirável Mundo Novo que é hoje o nosso, retorqurinos-ão «... você reclama o direito de ser infeliz.» Ai! soubessem eles que a verdadeira felicidade e paz - a ataraxia epicurista - está na noz onde nós, Hamlets!, somos reis e não numa pestilenta Dinamarca!
O nosso despojamento é livre, a nossa renúncia voluntária: e ainda assim o mundo, forçosamente, vergar-nos-ia ao igual comportamento. Inserimos no sistema, esponjamo-nos, até nos regurgitarem. Inevitavelmente ficaremos desempregados, pouco importa (tão pouco é o que o é) a média - porque tudo se nos pede medíocre. Somos, reconheçamo-lo, a geração dos náufragos. Nesta Jangada de Pedra, inevitavelmente, derrocaremos para o mar. É vão, como toda a vanidade das complexidades inúteis desta sociedade, o que nos esforçamos. O que aprendemos não nos dará o pão, não nos dará a arte, não nosa dará a esposa: que interessa fora disto? Se o pão é sinédoque da casa, se a arte é perífrase de toda a criação, intelectual e física, poema ou filha, se a esposa é hipérbole de todo o amor, felicidade e paz: que mais, pois, poderemos - deveremos - reclamar? Mas nenhum da trindade nos é garantido pelo sistema educativo, que nos condena, sabêmo-lo e não mentimos a nós mesmos na ânsia sôfrega de verdade, ao desemprego.
Nenhum nos concede também a sociedade capitalista, sem que repugnância nos cause. Acaso podemos apreciar a arte sem que em nós se acalente vivamente na vontade o sonho? Ante a criação, todo é criador! O que não cria, é mascarado no baile do divino. Pois a mesma veemência com que censuramos a passividade a-estética, com a mesma incredulidade com que a fitamos, não deveríamos olhar assim também para o pão, para a casa? Não deveria ser motivo de desonra que o pão que comemos não o tenham sido as nossas mãos a amassar? Não será justa causa de vergonha a casa que habitamos não a termos edificado?
Estas são as coisas que não teremos, apesar de construírmos olheiras sobre livros bibliotecários. O Jesus Cristo de Pessoa ajuizadamente não tinha biblioteca nem percebia nada de finanças - sábio homem! Em boa conta o tenho, e em igual estima tratarei os seus iguais! Não é um apelo contra o saber - mas pela sabedoria. Não é negar a leitura de um poema como quem admira uma mulher nua, mas rejeitar frontalmente a dissecação livresca de quem faz a autópsia a um cadáver feminino. É questionar toda a inutilidade que acumulamos, porca como a cera de um ouvido. A isso, um só fim se queremos luz: queimar! E deixar a chama liquidar a sólida cera...
O nosso despojamento é livre, a nossa renúncia voluntária: e ainda assim o mundo, forçosamente, vergar-nos-ia ao igual comportamento. Inserimos no sistema, esponjamo-nos, até nos regurgitarem. Inevitavelmente ficaremos desempregados, pouco importa (tão pouco é o que o é) a média - porque tudo se nos pede medíocre. Somos, reconheçamo-lo, a geração dos náufragos. Nesta Jangada de Pedra, inevitavelmente, derrocaremos para o mar. É vão, como toda a vanidade das complexidades inúteis desta sociedade, o que nos esforçamos. O que aprendemos não nos dará o pão, não nos dará a arte, não nosa dará a esposa: que interessa fora disto? Se o pão é sinédoque da casa, se a arte é perífrase de toda a criação, intelectual e física, poema ou filha, se a esposa é hipérbole de todo o amor, felicidade e paz: que mais, pois, poderemos - deveremos - reclamar? Mas nenhum da trindade nos é garantido pelo sistema educativo, que nos condena, sabêmo-lo e não mentimos a nós mesmos na ânsia sôfrega de verdade, ao desemprego.
Nenhum nos concede também a sociedade capitalista, sem que repugnância nos cause. Acaso podemos apreciar a arte sem que em nós se acalente vivamente na vontade o sonho? Ante a criação, todo é criador! O que não cria, é mascarado no baile do divino. Pois a mesma veemência com que censuramos a passividade a-estética, com a mesma incredulidade com que a fitamos, não deveríamos olhar assim também para o pão, para a casa? Não deveria ser motivo de desonra que o pão que comemos não o tenham sido as nossas mãos a amassar? Não será justa causa de vergonha a casa que habitamos não a termos edificado?
Estas são as coisas que não teremos, apesar de construírmos olheiras sobre livros bibliotecários. O Jesus Cristo de Pessoa ajuizadamente não tinha biblioteca nem percebia nada de finanças - sábio homem! Em boa conta o tenho, e em igual estima tratarei os seus iguais! Não é um apelo contra o saber - mas pela sabedoria. Não é negar a leitura de um poema como quem admira uma mulher nua, mas rejeitar frontalmente a dissecação livresca de quem faz a autópsia a um cadáver feminino. É questionar toda a inutilidade que acumulamos, porca como a cera de um ouvido. A isso, um só fim se queremos luz: queimar! E deixar a chama liquidar a sólida cera...
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